Não o conheço e não sei o seu nome. Apareceu-me do nada, do meio da multidão em folia. A festa era rija como são todas as festas do Carnaval de Torres. Para quem gosta e já por lá andou, sabe que o Carnaval de Torres tem um sentir muito peculiar. O Corso são todos os que nele participam e a distinção entre figurantes, estrelas e público é feita por linhas tão ténues que se tornam imperceptíveis.
No campo da fotografia este evento é uma palco de excelência, as cores abundam, o movimento é rei e as cenas são deslumbramento puro. A possibilidade de estar no centro dos acontecimentos faz subir a adrenalina e facilmente nos deixamos inebriar pela magia, pelos sons, pelos cheiros...a alegria é contagiante.
Mas regresso a esta fotografia que me tocou particularmente pela sua espontaneidade e pelo que representa para mim, autor da mesma. Eu não conheço, infelizmente, este homem. Surgiu-me do meio da multidão, dirigiu-se a mim, pediu-me com cordialidade se o podia fotografar. Respondi-lhe que sim e entre empurrões, apertos e alguns passagens pelo meio, lá consegui satisfazer o seu pedido. Pedido que de tão simples me tocou profundamente. Ele não me pediu que lhe enviasse a fotografia, não a quis ver no lcd da câmara, apenas me pediu para o fotografar.
Depois, assim como apareceu, desapareceu na multidão, deixando-me atordoado com a situação.
Não sei os fundamentos para o pedido, nem sei se a satisfação do mesmo lhe trouxeram algum sentir digno de registo, onde possa ter imperado a felicidade. Gostava que assim fosse e que, de alguma forma, o meu gesto o pudesse ter feito feliz e lhe tivesse demonstrado que, de entre tantas fotos que fiz, esta foto foi especial e merecerá lugar de destaque nas minhas memórias. Porque a fotografia é isto, também isto, momentos que nos tocam emocionalmente.
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