terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Invicta...

©Hugo Tavares
A madrugada já vai avançada. O vento...suave...que se faz sentir...transforma o frio em navalhas que nos passam pelas mãos. A luz era já clara...mas não intensa...dançava abraçada a uma neblina...juntas deambulavam em passo de valsa...ambas permaneciam exactamente no mesmo sítio.
Eu gosto do acordar das cidades...há uma magia que as torna únicas...nenhuma tem o mesmo despertar para o dia.
O Porto tem um acordar deslumbrante...sente-se e cheira-se a sua alma. 
É um acordar inebriante...viciante...mesmo para quem não é de lá e apenas está de passagem. 
Suspeito que nunca ninguém está de passagem depois de por lá passar. 
Há um resgate permanente que nos impele a regressar...regressar vezes sem conta.
Os sons são ainda escassos e subtis...ecoam mais à distância. 
A ponte...ao contrário da canção sobre outra ponte..."não ficou deserta" e não há dúvidas que o Porto "não partiu para parte incerta". 
O Porto está aqui, mesmo diante de mim...ou melhor...sou eu que estou no Porto. 
O ferro da ponte...num cinza muito escuro...entra-me pelos olhos a dentro e a neblina...dançando a sua valsa com a luz...confere-lhe uma imponência ainda maior do que a habitual.
É uma ponte sem início e sem fim...como o são os sentires no Porto...eternos...e ficam...apenas...para sempre.
O Invicta está atracado ao cais da Invicta...jogo de palavras...coincidências...mas não havendo crenças nas coincidências...está para me lembrar que navega as veias de uma região dourada...navega o Douro...conhece-lhe as entranhas. Está tranquilo porque as águas apenas o embalam suavemente. O fumo que deita...anunciando o seu acordar mistura-se na neblina...não se distingue...não se destaca...mas está lá. Há-de romper a neblina se ela não se dissipar...há-de fazer mais uma das muitas viagens...não será tão Invicta como a cidade que o acolhe...mas os pulmões ainda estão jovens e passageiros não lhe faltam para garantir o sustento.
E se "uma gaivota viesse"...eis que ela irrompe pelo campo de visão a dentro...dona e senhora de si. Quer marcar a sua posição...trazer o movimento da natureza...e plana para se deixar ver...quer ficar no registo fotográfico...quer ser estrela...ela que de entre muitas foi a única que acordou cedo e se mostrou...no exacto momento em que a sua presença era requerida.
Assim...numa madrugada...se compôs um quadro vivo...ficará eterno e agarrado à lembrança de um momento único...irrepetível...MÁGICO...

1 comentário:

  1. Hugo, parabéns pelo excelente texto, tão excelente como o registo fotográfico que o ilustra.
    Parabéns por teres cá passado, volta sempre porque a magia do Porto espera sempre por ti e por muitos outros que o desconhecem.
    Abraço.

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