A noite estava cerrada... chuviscava... pouco... mas ainda
assim chuviscava.
O frio não se fazia sentir... apesar do rio estar ali... mesmo
à beira... ou por estar eu à beira do rio.
O que me chamou à atenção foi a concentração deste
homem... imperturbável... como se nada...mesmo nada... o pudesse retirar dos seus
pensamentos... dos seus sentires... das suas artes.
A árvore dava-lhe a cobertura necessária... para que as
suaves gotas de chuva não lhe tomassem a folha de papel.
Teimava em garantir que o que se apresentava diante dos seus
olhos haveria de ir consigo... ali... naquelas folhas... brancas... haveria de
registar aquele momento... torná-lo eterno... para todo o sempre... para todo o
sempre dele.
Todos os registos que cada um de nós... à sua
maneira... guarda... acabam por se transformar em parte de nós mesmos.. .como se
fossemos um puzzle... constituídos por parcelas de história... a nossa
história... aquela que apenas a nós diz respeito.
Assim, este homem... de forma muito tranquila... garantia o
seu acervo que... um dia... lhe fará companhia... quando as lembranças... forem a
sua bengala... e a sua lucidez delas depender.
Eu trouxe-o comigo... não lhe pedi... mas talvez a minha ação
encontre nele a compreensão de quem... como ele... quis trazer o registo de um
momento que me encantou... que me prendeu.