Sabes Portugal...gosto de te olhar...de te ver...de te sentir pulsar.
Gosto da tua interioridade...com todas as virtudes e com
todos os teus defeitos.
O teu interior é tão distinto. Sente-se a pureza e o genuíno
a jorrar por todos os poros...ao mesmo tempo que te vestes de mesquinhez, preconceito e
controlo...entre o deve e o ser...quase tudo sob o manto da religiosidade e do confessionário.
Teimas em manter a tradição...escrevê-la na sua dança
típica. Há caras novas nesta tua dança...o que ainda deixa a esperança de não
se perder o que és na essência...o que te fez...o que no fundo depositaste
dentro de nós.
O mundo gira de outra forma nestas tuas entranhas...o tempo
corre com uma velocidade própria...ou talvez o tempo não corra sequer...há
prioridades distintas.
A pressa é tão relativa e as tuas pessoas olham-se nos
olhos...cumprimentam-se e pouco ou nada dependem das novas formas de
comunicação. Há bons dias...entre conhecidos e estranhos e, bastas vezes,
ouve-se o Bem-Haja...uma expressão que tem tamanha beleza...mas que só os daqui...aqueles a quem deste de beber a tua essência...a entendem e percebem na sua plenitude.
Fica com Deus e que Deus te abençoe...assim o ensinaste a tanta gente...mas
tanta gente já o esqueceu ou nunca o pode aprender.
Dizem que o país esqueceu o teu interior...o país...aquele
que está sediado em Lisboa... perdeu as tuas referências. Não sei se é bom ou
mau...apenas sei que assim dizem.
A teimosia de manter as tradições...tornando-as vivas...apenas
é possível pela resiliência de um punhado de gente tua. As festas...aquelas que
não se inscrevem nos sunset e nos festivais modernos...garantem encontros e reencontros...celebram-se
com abraços e com histórias. Tu Portugal que tanto gostas de histórias...tu que
és dos mais velhos da Europa...tu que tens uma história infinita.
É a tua essência Portugal...aquela que jaz esquecida por
muitos...aquela que tantos já desconhecem...aquela que muitos largaram ao
abandono e morte...sim...já te mataram vezes de mais os filhos que são teus por
sangue e direito.
O regresso dos filhos da terra...lembras-te Portugal de como
era importante tê-los de volta...sabê-los vivos e de saúde. Mas também te
lembras de como era difícil vê-los partir de novo. Iam para melhor...tinham a
sua vida num outro local...longe...mas a festa do ano seguinte haveria de
trazê-los novamente...sãos e salvos.